CCIE – Por qual caminho seguir?

Maurício Harley
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A “longa” e “tenebrosa” estrada.

Olá!  Decidi escrever este artigo para responder a perguntas que várias pessoas me fizeram (e fazem) a respeito das minhas certificações CCIE.  De uma forma geral, me perguntam:  CCIE, por qual caminho seguir?  O que estudar?  Quanto tempo por dia eu preciso investir para ter sucesso?  Você precisou fazer mais de uma vez?  E como é?  O que é mais complicado?  Espero responder a esta e a outras perguntas no texto.  Caso você tenha outras dúvidas relacionadas ao CCIE ou a demais certificações Cisco, sinta-se à vontade para deixar uma pergunta na parte de comentários.

Bem, caso você ainda não saiba, não existe nenhum pré-requisito formal para se obter o título de CCIE.  O que?  Como assim?  Isso mesmo.  A certificação de suporte mais alta da Cisco não apresenta nenhuma requisição de títulos anteriores para ser obtida.  Obviamente que você tem que passar em ambos os exames, escrito e prático, mas não é preciso ter nenhuma outra certificação para fazer o exame teórico (escrito). Os desavisados ou inexperientes podem achar isso atrativo, mas é justamente aí que mora o perigo…

Sim, você pode ir direto, mas não faça isso!  Definitivamente, não siga este caminho.  O CCIE, assim como certificações sênior de outros fabricantes (a exemplo do JNCIE), deve ser alcançado após anos de experiência na trilha que você deseja seguir.  E aqui não existe um número mágico.  Não posso lhe afirmar que você precisa de 5, 10 ou 15 anos de experiência.  Cada pessoa pode ter exposição a projetos de pequena, média ou grande complexidades e, de repente, abreviar a experiência recomendada para se aventurar no título.

Então, antes de partir para o CCIE, comece do começo (literalmente).  Se você ainda não possui nenhuma certificação Cisco, a recomendação é iniciar pelo CCNA.  Esqueça a CCENT.  Ela não é um requisito para você tirar o CCNA.

Quando obtive a meu CCNA, em 2003, usei o livro do Todd Lammle (imagem ao lado) como único recurso de estudo, além dos roteadores e switches, que estavam ao alcance das minhas mãos. Naquela época, ainda havia um software com teste simulado de questões chamado Boson.  Nós candidatos sabíamos que o nível cobrado nele era mais alto do que o nível do exame real.  Assim, uma boa pontuação no Boson significaria uma chance grande de conseguir a certificação.  A empresa ainda vende esse tipo de produto, mas não sei como anda sua eficácia nos dias de hoje.

Lammle felizmente continuou a lançar novas edições do seu livro.   A Cisco Press, editora oficial da Cisco, também possui títulos cobrindo os tópicos deste e de vários outros exames de certificação.  Foi uma grata surpresa ver que os livros da Cisco Press têm evoluído com o passar dos anos, ficando mais didáticos e detalhados.  Importante também entender que, assim como ocorre com o CCIE, o CCNA possui trilhas.  No entanto, o CCNA possui até mais trilhas, o que garante uma cobertura bem mais ampla de assuntos/áreas para candidatos.

Quando se trata de conteúdo, tenho preferência por livros.  Então, se você me perguntar por materiais de estudo ou referências de pesquisa sobre algum assunto que seja do meu conhecimento ou interesse, normalmente indicarei livros em vez de links do YouTube. 😉  No entanto, para as pessoas que precisam (ou preferem) cursos presenciais de CCNA, a Cisco teve uma excelente ideia para atender a esses anseios:  a Cisco Networking Academy.  Consiste de um conteúdo elaborado especialmente para a prova, mas que também cobre assuntos muito além, indo desde os fundamentos de rede.  Então, se você é alguém que conhece pouco ou quase nada desta área, é extremamente recomendável seguir por este caminho.  Há vários centros de educação espalhados pelo mundo e todas as informações podem ser obtidas no link correspondente.

Depois que você tiver alcançado o CCNA, continue trabalhando na trilha escolhida, seja qual for,  para que você obtenha ainda mais experiência de campo.  Depois de algum tempo, você pode sentir a necessidade (por conta do trabalho ou por pura ambição pessoal) de galgar mais um degrau.  Neste momento, o caminho natural é o CCNP.  Na pirâmide de certificações montada pela Cisco, este título se localiza mais ou menos no meio.

Aqui, novamente ficam as dicas de livros da Sybex ou Cisco Press.  É preciso atentar que o CCNP, para qualquer trilha que você queira seguir, consiste de mais de uma prova.  Assim como no CCNA, os exames são feitos nos centros de testes da VUE e consistem não apenas de questões de múltipla escolha, mas também de itens com simuladores de equipamentos.  Nestes simuladores, você pode ser solicitado a executar uma ou mais configurações para atingir determinado objetivo.  A Cisco também dispõe de treinamentos em vídeo para esta certificação.

Voltemos a falar do CCIE.  Ele possui atualmente 6 trilhas:  Collaboration, Data Center, Routing & Switching, Service Provider, Security e Wireless.  A experiência envolve, obviamente, contato com equipamentos e softwares relevantes à trilha escolhida.  Notadamente, profissionais de revendas Cisco terão mais chance de conseguir tal contato.  Soube também de alguns clientes Cisco que fizeram os exames após se engajarem em projetos e estudar.

Pelo que já expus até aqui, a resposta para a pergunta “por qual caminho seguir?” foi mais ou menos dada, certo?  Ainda não?  Talvez você não tenha percebido:  livros!  Todas as trilhas do CCIE possuem indicações de livros para preparação.  A trilha de Routing & Switching, por ser a mais velha e tradicional, possui um único livro que engloba todo o conteúdo da prova escrita.  O mesmo não ocorre nas demais.  É comum ver um candidato a CCIE lendo 8 ou 10 livros para agregar todo o conhecimento cobrado.

Em relação ao que estudar, principalmente para a parte teórica, isto tem tudo a ver com o blueprint (o nome que a Cisco dá para a lista de tópicos da prova), e também com as áreas nas quais você se sente menos seguro.  Durante minhas caminhadas profissionais, tive contato com colegas muito bons em QoS e VoIP, mas com dificuldades severas em roteamento ou conceitos básicos de segurança.  Também já convivi com excelentes profissionais em antivírus e firewall, mas sem entender nada de MPLS ou IPv6.  É perfeitamente possível de acontecer, mas o exame não perdoa.  Você precisa saber tudo o que está no blueprint.  E nestas horas, foque principalmente nos assuntos onde você é mais fraco.  Leia bastante e pratique em cima deles, não esquecendo, é claro, o restante do conteúdo.

Assim, não existe exatamente um assunto mais complicado ou uma trilha mais difícil do que a outra (como já ouvi e li diversas vezes por aí).  Pura bobagem!  O assunto mais complicado será aquele que você não domina (ainda) e a trilha mais complicada será aquela na qual você tem pouca ou nenhuma experiência.  Simples assim!

O mais difícil é a batalha interna de você contra você mesmo.  Durante o exame prático, ela se mostra ainda mais intensa do que no teórico.  O CCIE não é um concurso público, em que você está disputando vagas com outros candidatos.  Ali, você só precisa atingir a nota “mínima” de 8,0 para ganhar seu # (número de CCIE).  É preciso gerenciar tempo, focar nos assuntos de maior pontuação primeiro, ser atencioso com detalhes, ler, reler e repetir isso inúmeras vezes para se estar certo de não sobrar nenhuma dúvida.  Enfim, são muitos pontos que precisam ser treinados muito bem antes e postos em prática da maneira mais efetiva possível.

Dentro das discussões de CCIE que vejo ou participo, uma pergunta se repete com mais frequência que as demais:  quanto tempo é necessário para se preparar?.  Não existe uma resposta certa.  Cada um tem sua forma de estudar, sua capacidade de absorção e seus períodos livres.  Então, não acredite se responderem algo com uma entonação de verdade:  1 ano, 2 anos, 3 anos…  Tive colegas que estudaram 4 horas por dia, outros 8 e outros, apenas 2.  Todos passaram.  Uns preferiram apenas os livros e laboratórios reais.  Outros preferiram vídeos e emuladores (como o GNS3 e o EVE-NG).  Eu particularmente estudava quatro horas durante os dias úteis e entre 8 e 10 horas por dia durante os fins de semana.  De novo, isso não é uma lei.  Apenas quero dizer que funcionou deste jeito para mim.  Petr Lapukhov, por outro lado, obteve 4 títulos CCIE em 2 anos de estudos contínuos (o que dá 1 título a cada 6 meses).  Só para fazer uma comparação…

Como muitos candidatos a CCIE precisam se submeter ao exame mais de uma vez – é lamentável, mas muita gente é reprovada por pouquíssimos escores – trata-se de outra pergunta que encaro frequentemente:  você precisou fazer mais de uma vez?.  No meu caso, precisei fazer o exame prático de Routing & Switching por 4 vezes.  Isso mesmo!  Em cada derrota, vinha aquela vontade de nem olhar mais para o material de estudo.  Após uma semana sem tocar nos livros, a vontade dava lugar ao desafio de vencer a prova e eu retomava com força total.  Já no de Service Provider, felizmente, passei de primeira.  É algo difícil de se ver, mas nada impossível.

Sobre o preparo para o exame (especialmente o prático), eu indico fortemente o INE (apenas reforçando, não recebo nenhuma comissão da empresa, nem bônus ou qualquer outro benefício).  Inclusive, é uma das premissas que prezo no blog:  não aceitar anúncios, de forma a me deixar livre para escrever sobre qualquer fabricante, conceito ou tendência.  O motivo de recomendar o INE é simples:  a didática deles e o conteúdo abordado são excepcionais!  Tanto os materiais escritos (workbooks) quanto os vídeos são excelentes.  Eles começaram confeccionando e vendendo itens apenas para o CCIE.  Com o tempo, abriram para outras certificações (como o CCNA e CCNP) e, atualmente, vendem cursos independentes de certificações, como os voltados para segurança, SDN, Python, OpenStack, entre outros.

Em resumo, isto era o que queria deixar de contribuição para quem deseja entrar neste mundo de certificações Cisco.

FONTE: http://itharley.com/

Sobre o autor

Maurício Harley

MBA em Gerenciamento de Projetos de TI, Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal do Ceará, Tecnólogo em Telemática pela Faculdade Estácio. Detentor de duplo CCIE (Routing & Switching, Service Provider), CISSP (Certificação de Segurança vendor-neutral) e várias outras. Mais de 20 anos de experiência em TI, especialmente nas áreas de Redes de Computadores, Segurança da Informação e Data Center. Participou, em todo o território nacional, de inúmeros projetos de suporte a infra-estruturas complexas, ambientes de missão crítica, implementação de novas funcionalidades, resolução de problemas ou redução de custos. Contribuiu, por duas vezes, na elaboração do currículo para o curso de Técnico de Telecomunicações do SENAI. Ex-membro do Cisco Data Center Tiger Team, equipe de elite em tecnologias de Data Center da Cisco. Publicou artigo na revista PenTest Magazine sobre análise forense de memória com Python.

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